Mas, inevitavelmente, mudei minha relação com o computador e, desde então, venho, cada vez mais, me introduzindo neste admirável mundo novo.
Tais transformações ocorreram quando as exigências do curso aumentaram. Quanto mais havia a ser feito, mais necessária se fazia mudar de atitude em relação ao que eu pensava. Ou eu vencia essa “timidez digital” ou seria engolida pela própria demanda.
Parar na frente do computador agora era necessário!
Passei a fazer postagens frequentes, aqui no blog, tornando-o, inclusive, um ambiente acolhedor para quem o visita.
Esse último eixo, especialmente, foi bem interessante. Nos fazer passear pelos posts mais antigos do blog e enxergar o crescimento contido na nossa trajetória, é menos vergonhoso do que fascinante. Poder ver a maneira imatura com que utilizava a ferramenta em relação ao curso, me fez ao mesmo tempo perceber meu crescimento e refletir sobre o que ainda preciso amadurecer no espaço infinito das descobertas tecnológicas.
No curso, sempre houve uma orientação para que tentássemos ver as mesmas coisas de um outro modo, quebrando paradigmas, questionando as velhas certezas, aprendendo a distinguir concepções ingênuas dos saberes científicos. Tentei incorporar essas premissas, que nos levam a mudar de ângulo e perceber as diversas dimensões conceituais do saber.
Observei nessa retrospectiva, por exemplo, que até pouco mais da metade do primeiro ano de PEAD, eu usava o blog para “postagens pessoais”, ou seja, fazia publicações que falavam de mim, dos momentos pelos quais eu estava passando e o que andava pensando. Não havia uma conexão entre o que estava sendo desenvolvido no curso e a minha prática docente. Com o tempo, o suporte e a orientação dos(as) professores(as) do PEAD, fui me dando conta de sempre fazer links entre teoria e prática.
Revendo todo o percurso, notei que, só a partir de outubro de 2007 é que publiquei minha primeira postagem significativa: um vídeo registrando um momento de expressão corporal dos meus alunos, levando para a sala de aula as aprendizagens do curso. Essa teve até um marcador: Portfólio/Teatro.
No mês seguinte esse processo foi amadurecendo ainda mais e finalmente ficou consolidada a minha percepção do blog como um espaço autoral de socialização e aprendizagem. Daí em diante muitas postagens vinculando teoria ao exercício profissional.
Toda essa caminhada me estimulou a vivenciar mais e mais o ambiente digital. Levei essa novidade para sala de aula e fui desenvolvendo ainda mais esses novos conhecimentos, na medida em que compartilhava-os com os alunos. Passei a me interessar pela tecnologia, ao ponto de transforma-la não só parte da minha prática pedagógica, mas também tema de pesquisa para o meu TCC.
O que começou com a realização de estágio, como parte obrigatória do curso, onde precisávamos cumprir 180 horas de efetivo exercício docente, transformou-se em objeto de estudo. Esse foi outro momento significante e que foi registrado também aqui nesse espaço: o estágio.
Como o normal é temer o novo, mais uma vez me vi arredia em ter que estagiar durante nove semanas, planejando atividades para uma nova sala de aula. A princípio, não vi necessidade de fazer isso, por estar na rede municipal dando aula já há 18 anos. Mas logo senti a premência de colocar em prática um pouco de tudo que vimos e vivemos no PEAD. Tecer uma rede, costurando as aprendizagens e vivências nas mais diversas áreas do conhecimento. Uma oportunidade de mostrar que era possível encontrar outros caminhos para uma mesma busca.
Não posso negar que foi difícil, mas tenho que confessar também que me sinto satisfeita por ter conseguido planejar, executar e refletir, mesmo que muitas vezes pensasse que não ia dar certo. Fui, mais uma vez, relutante no início, porque tive que deixar a minha turma e começar do zero, conhecendo as habilidades e trabalhando as dificuldades de alunos diferentes dos que estava habituada. Diferentes em todos os sentidos que esse adjetivo possa dar a entender. E tenho certeza de que para eles também foi muito difícil.
Mas as crianças têm uma qualidade que nós costumamos perder gradativamente, na medida em que vamos ficando adultos: a capacidade de nos adaptarmos a qualquer situação, sem muita resistência. O novo não amedronta as crianças, porque nelas ainda não se construiu a tão falada “zona de conforto”, que nós adultos, mesmo sabendo que tudo dá certo, até quando as nossas prévias organizações vão por água abaixo, carregamos os engessados paradigmas. Os pequenos sábios sabem a hora do improviso. Os grandes, aqueles que se dizem sábios, muitas vezes perdem essa hora.
Hoje sei que é preciso enfrentar os nossos medos, simplesmente porque somos nós mesmos quem os criamos e alimentamos. Tenho absorvido, através dos passeios que fiz pelo blog, que houve uma transformação espontânea na minha maneira de viver os processo que se formavam dentro de mim. Cada publicação teve a marca de um aprendizado que me fez refletir sobre o meu lugar de aluna, estabelecendo uma aproximação com a posição em que o meu aluno se encontra. Nessa inversão, percebi que uma relação de aprendizagem contínua pode ser desenvolvida com eles. Isso tornou ainda mais compreensíveis as diferenças no ritmo do aprendizado de cada um, o que constituiu uma convivência salutar no sentido de ensinar sob a ótica de quem aprende.
Em breve serei pedagoga. Trago comigo, além dos conhecimentos teóricos adquiridos no curso, as emoções e sentimentos que, como disse, me fizeram rever muitos conceitos e que estiveram presentes nos bons textos, nos bons filmes e em todas as vezes que me dei conta de estar respaldada teoricamente na minha prática pedagógica.
Tenho absoluta certeza de que o PEAD provocou muitas mudanças em todos os que se envolveram de verdade nessa caminhada. Foram quatro anos e meio de condução pelas estradas incertas da aprendizagem. Caminhos esses que não são, de forma alguma, finitos. Mas que, no final de cada etapa, nos deixa mais seguros de que cada passo dado é um objetivo alcançado. Somos agora borboletas saídas do casulo. Cada uma no seu tempo, com a sua força, perseverança e determinação.
Para terminar essa última postagem, deixo registradas as palavras de Madalena Freire no livro "O Coordenador Pedagógico e o espaço da mudança”, pois penso ser o pensamento mais oportuno ao momento:
"Estar vivo é estar em conflito permanente, produzindo dúvidas, certezas, sempre questionáveis. Estar vivo é assumir a educação do sonho cotidiano. Para permanecer vivo, educando a paixão, desejos de vida e de morte, é preciso educar o medo e a coragem. Medo e coragem em ousar. Medo e coragem em assumir a solidão de ser diferente. Medo e coragem em romper com o velho. Medo e coragem em construir o novo".