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POSTAGENS

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O CASO DO MENINO VICTOR


Na passagem do século XVIII para o XIX, uma criança que morava nas florestas do sul da França, despertou o interesse dos estudiosos e dos cidadãos comuns. Era um menino aparentando 12 ou 13 anos, mudo, e que também parecia ser surdo. Grunhia como um animal, cheirava tudo que levava as mãos e se locomovia de quatro, dando a impressão de que sempre conviveu somente com seres irracionais.

O menino depois de “capturado”, foi levado para algumas instituições, onde não recebeu nenhum tratamento individual especializado, ou passou por qualquer tipo de observação. Sua passagem por esses lugares chamava a atenção das pessoas, que visitavam o lugar onde ele estava para observá-lo como se estivessem em um zoológico.

Depois de algum tempo, por ordem das autoridades locais da época, ele é levado à Paris, e tratado pelo Instituto Nacional de Surdos-Mudos. Nessa instituição trabalha um jovem médico chamado Jean-Marc-Gaspard Itard, que havia sido aluno de Pinel, e que se interessou muito pelo menino. Itard, ao contrário do mestre Pinel, acreditava que era possível educá-lo e reintegrá-lo a sociedade. O médico alimentou em si a crença de que aquele estado em que se encontrava o garoto era fruto das privações ao contato social que havia sofrido e resolveu provar que estava certo.

Assim sendo, por determinação do governo, que assume o custo anual do menino no Instituto, Itard encarrega-se pessoalmente da educação moral e intelectual do garoto com o firme propósito de torná-lo apto ao convívio. Para auxiliá-lo nessa tarefa ele conta com a ajuda da Governanta, Madame Guérin, que começa a morar com Itard e com a criança, agora chamado pelo nome de Victor.

Em suma, o filme mostra a relação entre o abandono de um menino com problemas de audição e as conseqüentes seqüelas que seu estado acarreta, e um médico que acredita num projeto educativo individual, de acordo com os padrões da época. Itard queria ensiná-lo a falar, mas em nenhum momento pensa em utilizar qualquer outra forma de comunicação que não a padrão. Sua abordagem foi um tanto quanto experimental, embora ele acabe criando um certo afeto pelo garoto. A forma como o médico tenta tirar suas conclusões através das reações de Victor às suas provocações, confirma os objetivos de seus experimentos. Ao fim do filme ele tenta analisar o comportamento moral do menino, testando o efeito de um ato de injustiça. Quando o garoto se rebela diante da provocação do médico, ele conclui então que Victor havia minimamente se tornado um ser civilizado.

Refletir sobre a história do menino Victor é lembrar do quanto os surdos sempre foram considerados inferiores, rejeitados pela sociedade, isolados em asilos, enfim, levando uma vida social cheia de restrições. Pessoas que sempre foram consideradas doentes, ou deficientes.

É importante lembrar dos dois modelos que prevalecem na educação de surdos: o clínico e o sócio-antropológico. O modelo clínico, representado pelo próprio Itard no filme, tentando desenvolver a fala de Victor, e o modelo sócio-antropológico, que enfatiza a cultura e a comunidade surda. A associação de ambas as formas no caso de Victor seria de muita valia em seu tratamento, visto que ele apresentava muito mais problemas comportamentais, em face de fatores como o abandono e a ausência do convívio social. Aos primeiros sinais de compreensão dos valores humanos, o menino chega até a balbuciar algumas palavras, o que representa um desafio inicial no alcance das significações lingüísticas. A continuação para a história do “Garoto Selvagem”, deveria contemplá-lo com um conhecimento mais aprofundado dessas significações. Dessa forma ele galgaria uma primeira conquista, para depois adequá-las à linguagem dos sinais. Um final que está ficando cada vez mais comum entre os surdos da atualidade.

Um comentário:

Simone disse...

Olá Zinara!
Passei aqui para visitar teu blog!
Achei muito interessante a tua apresentação em vídeo.
Fizeste uma boa descrição do filme e me deixou curiosa para assisti-lo. Referes que os surdos levavam uma vida social cheia de restrições. Como percebes isso hoje em dia?
Um abraço, Simone - Tutora sede