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POSTAGENS

domingo, 31 de maio de 2009

EDUCAÇÃO APÓS AUSCHWITZ


Conhecido como um dos piores massacres da história da humanidade, o holocausto, termo utilizado para descrever o extermínio de diversas pessoas na Europa nazista, mostra a monstruosidade e barbárie a que o ser humano foi submetido.
Para Theodor Adorno, em seu texto “Educação após Auschwitz”, pensar que aquele episódio nunca mais se repetirá, é uma exigência. Ele traz a idéia de que a educação se opõe às barbáries que ocorreram e que poderão ocorrer novamente.
Há em seu texto uma menção à tese de Freud sobre o mal-estar na cultura, a respeito da claustrofobia que a humanidade sofre, em contraste com o contexto estruturado e socializado denominado “civilização”. O sujeito tenta sair dessa rede sem conseguir, gerando raiva contra as normas da citada civilização. Essa revolta torna-se, por vezes, como bem denominou Adorno, brutal e irracional. Sob o ponto de vista sociológico, ele ousa complementar esse pensamento, inclusive, afirmando que a nossa sociedade, embora se integre cada vez mais, incuba simultaneamente tendências desagregadoras.
Trazendo esse raciocínio para o atual cotidiano da educação escolar, observa-se vidas individualizadas, pessoas que, embora façam parte de um grande grupo “civilizado”, amargam na mais profunda solidão. Esse é um perfil comum nas escolas, onde o aluno precisa dar conta de si e das suas necessidades. Em que ele é incumbido de uma porção de responsabilidades que nem sempre consegue dar conta. Tudo isso associado, muitas vezes, a uma instituição familiar inexistente, ou ausente. Assim, crescem e fatalmente reproduzem essa mesma desestrutura, onde os filhos normalmente são criados e educados pela a avó, que assume, de alguma ou qualquer forma, o núcleo familiar.
Essa distância da família gera uma falta irreparável no aluno. E a privação de uma referência familiar, por si só, já causa um déficit na educação, sobretudo na primeira infância. Quando associada à ausência total ou mesmo parcial de esclarecimentos sobre essa realidade, o que é uma práxis social, torna a iminência da barbárie uma verdade pavorosa. São aquelas aprendizagens de valores, conceitos, regras e civilidade que, de certa forma, é a família quem proporciona. E a escola tem um papel fundamental nesse processo, principalmente no que se refere à consciência dos mecanismos que podem levar uma criança a se tornar um adulto representante do retorno à barbárie.

SER NEGRO


Trabalho em uma Escola Municipal no extremo sul de Porto Alegre. A escola nasceu no interior de um assentamento feito pelo poder publico. As famílias que foram ali assentadas, em torno de 600, vieram inicialmente de diversas regiões, entre elas, algumas áreas de risco em Belém Novo e alguns moradores da orla do Guaíba.
A Escola atende em torno de 1.200 alunos e trabalha com os filhos dessas famílias que não são, em sua maioria, negras.
Atendemos na escola uma população de alunos negros muito pequena e ao contrário da maioria dos locais, um grande número de professores negros. Aliás, tínhamos até o ano passado, muitos professores que entraram pelo sistema de cotas.
Trago essas informações para tentar entender a admiração e surpresa dos alunos ao serem questionados sobre “ser um aluno negro naquela escola”.
Os cinco alunos que entrevistei, dentre 11 e 13 anos, ficaram muito surpresos com a minha pergunta, pois disseram nunca ter sofrido nenhum tipo de discriminação. As perguntas foram diretas e me preocupei primeiro em saber se eles tinham consciência de que eram negros. Perguntei: qual a tua cor? Todos os cinco responderam: sou negro(a). E continuei minhas indagações no sentido de saber seus sentimentos com relação à sua cor dentro da escola. Suas respostas permeavam sempre os mesmos significados: Como assim? Me sinto normal. Um disse: Não entendi! Repeti a pergunta detalhando-a um pouco mais e ele me retornou: me sinto bem! Continuei desenvolvendo diálogos diferenciados, com cada um, individualmente, de acordo com o desenrolar de suas respostas.
É bem certo que, de alguma forma, já devam ter sofrido alguma discriminação, visto que, o preconceito racial é ainda uma realidade. Em todas as conversas, no fundo, encontrei subjetivos pontos que me fizeram pensar nisso. E me chamou atenção a falta de consciência dessa situação por parte dos alunos que entrevistei.
Penso que o fato de haver uma porção significante de professores negros, talvez mascare a sensação de preconceito, haja vista a presença constante de atitudes voltadas para convivência entre negros e brancos dentro da escola. O dia 20 de novembro, dia da consciência negra, por exemplo, é uma data instituidamente significante em nossa escola. Um dia em que estimulamos uma mais complexa reflexão sobre o assunto. De qualquer forma, identifiquei nesses alunos uma naturalidade intrínseca referente à sua afro-descendência.
Dentre os aspectos que observei mais superficialmente, há um que chama bastante atenção. Dos cinco alunos, três expressam, através de características físicas, mostras de uma cultura diferenciada. Usam tranças, tererês e penteados que, de certa forma, os fazem assumir a sua negritude. Mas, diante dos diálogos desenvolvidos, percebi que isso não se dá de forma consciente. Faz parte, de uma moda sugestionada, onde se convencionou comportamentos iguais e padrões estéticos.
Dentro dessa ótica, destaco algumas dimensões afro-culturais visualizadas. Observei o movimento, caracterizado pela dança, percussão e ritmos que são elementos presentes no cotidiano escolar. A família dos citados alunos parecem também levar sua afro-descendência da mesma forma que os filhos, sem muita compreensão dos aspectos históricos e culturais que os envolvem. Posso dizer que isso é tão forte, que eles próprios geram preconceito contra si mesmos, pois, volta e meia escuto negros usando palavras que disseminam racismo. Isso reforça um pensamento historicamente incutido na consciência das pessoas. Creio que o ideais racistas conscientes, ou inconscientes possam estar escondidos atrás de fatores éticos ou morais, tacitamente acordados pelos educadores.

sábado, 30 de maio de 2009

O CLUBE DO IMPERADOR


O filme “O clube do imperador” traz uma dúvida sempre atual: a formação do caráter acontece a partir da interferência da família ou da escola?
Trata também da devoção com que o professor William Hundert encarava seu trabalho e de uma forma geral, sua vida. Suas ações eram determinadas pela força de sua integridade moral. Ele acreditava ser possível transformar os estudantes em homens íntegros.
Um fato importante do filme é a chegada de um novo aluno na sala de aula: Sedgewick Bell. Ele mostra um comportamento diferente dos outros. É filho de um senador e age sempre com rebeldia, empáfia e arrogância. O professor depois de muita afronta por parte desse aluno, tenta modificar o seu caráter e estabelecer uma relação de confiança com ele. Diante disso, Hundert se coloca num conflito moral. Ele altera a nota de um aluno que fica em terceiro lugar em favor de Sedgewick, na tentativa de estimula-lo a mudar sua conduta.
Fica muito claro nesse momento os princípios morais que envolvem essa situação: honestidade, integridade e ética.
Ao papel da escola deve-se incluir sim, a formação do caráter de seus alunos. A questão é que essa tarefa não é missão somente da escola. Cabe à família fazer também a sua parte.
No filme o professor segue o pior caminho. Assume uma atitude de violência com seus princípios morais e, obviamente, não obtém o resultado que esperava. Ele erra consigo, transgride a ordem normal que assegura o legítimo terceiro lugar a quem o merece e peca mais ainda com o aluno rebelde, ou seja, sua atitude simplesmente não ajudou ninguém.
Analisando todas essas questões, acredito que uma conduta correta seria, sem sombra de dúvida, uma simples parceria entre a escola e a família. Hundert ainda tentou fazer isso buscando ajuda com o pai de Sedgewick, mas acabou por conflitar-se com seus valores morais, optando por uma ação infeliz.

ESTÁDIOS DE DESENVOLVIMENTO SEGUNDO PIAGET


De acordo com Jean Piaget o desenvolvimento cognitivo é um processo de sucessivas mudanças das estruturas cognitivas, sendo cada uma constituída pela estrutura anterior.
Essas construções são denominadas por Piaget de estádios e o que determina se uma criança está em um ou em outro estádio, não será sua idade, mas as características cognitivas, sua maneira de pensar e de agir.
São eles:

Estádio Sensório-motor (0 a 2 anos) - a atividade cognitiva desse período baseia-se nas experiências imediatas através dos sentidos. Há ausência da linguagem; a busca visual é um comportamento sensório - motor. A aprendizagem se dá através dos sentidos e o ambiente externo afeta essa relação.
No recém nascido as funções mentais limitam-se ao exercício dos aparelhos reflexos inatos. Assim sendo, o universo que circunda a criança é conquistado mediante a percepção e os movimentos (como a sucção, o movimento dos olhos, por exemplo).

Estádio Pré-operatório (2 a 7 anos) – o pensamento da criança é marcado pela intuição, pela percepção imediata da realidade. Nesse estádio, a criança já é capaz de representar suas vivências e sua realidade.
A irreversibilidade do pensamento é outra característica desse período. A criança não compreende a reversibilidade das relações.
O pensamento da criança pré-operatório é egocêntrico porque há um desequilíbrio entre os processos de assimilação e acomodação; a criança não concebe uma realidade da qual não faça parte, devido à ausência de esquemas conceituais e da lógica.

Estádio Operatório–concreto (7 aos 12 anos) – é nesse período que adquire a capacidade de realizar operações lógicas de classificação e seriação, conservações físicas de substância, peso e volume e conservações espaciais de comprimento, área e volume e conceito de número.
Um outro aspecto importante neste estádio refere-se ao aparecimento da capacidade da criança de interiorizar as ações, ou seja, ela começa a realizar operações mentalmente e não mais apenas através de ações físicas, típicas da inteligência sensório-motor. (se lhe perguntarem, por exemplo, qual é a vareta maior, entre várias, ela será capaz de responder acertadamente comparando-as mediante a ação mental, ou seja, sem precisar medi-las usando a ação física).

Estádio Operatório-formal (12 anos em diante) – é nessa etapa que a criança realiza raciocínios abstratos, não recorrendo ao contato com a realidade. É nessa fase que a criança pensa e formula hipóteses; capaz de formar esquemas conceituais abstratos e através deles executar operações mentais dentro de princípios da lógica formal.