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POSTAGENS

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

CONTRIBUIÇÕES IMPORTANTES PARA O TRABALHO PEDAGÓGICO



O Movimento da Escola Nova, ao propor uma outra forma de compreender o processo de ensino e aprendizagem, apresentou propostas mais dinâmicas para a organização do espaço escolar, das atividades pedagógicas e dos próprios materiais didáticos utilizados.
Dentre os pensadores escolanovistas que se preocuparam com estes aspectos, destaca-se Célestin Freinet e Maria Montessori.

Os excertos abaixo representam seus anseios e preocupações com a educação “nova”:

“A escola já não prepara para a vida, já não serve à vida e está nisso a sua definitiva e radical condenação. Cada vez mais, a formação verdadeira das crianças, sua adaptação ao mundo de hoje e às possibilidades de amanhã se praticam mais ou menos metodicamente fora da escola, pois ela não satisfaz mais a essa formação” (Célestin Freinet – Para uma escola do Povo, 1896).

“As crianças, movimentando-se, deslocarão mesas e cadeiras, provocando barulho e desordem. Isso, porém, não passa de preconceito, análogo à crença que muitas gerações alimentaram sobre a necessidade de enfaixar os recém-nascidos e encerrar os bebês em caixotes para ajudá-los a ensaiar os primeiros passos; análogo, igualmente, à crença moderna de que, na escola, os bancos devem estar pregados no pavimento. Tudo isto se fundamenta na crença de que a criança deve crescer na imobilidade, e no exótico preconceito de que é necessário manter uma posição especial para que a educação se verifique proveitosa” (Maria Montessori – Pedagogia Científica, 1926)

As contribuições de Maria Montessori

Como vimos anteriormente, Maria Montessori (1870-1952) foi uma admirável educadora italiana que nos deixou importantes contribuições no campo pedagógico. Ao propor um método educacional que partia do concreto para o abstrato, Montessori criou ricos materiais lúdicos para as crianças, nos quais elas poderiam explorar desde as propriedades dos mesmos – tamanho, forma, cor, textura, peso, cheiro, barulho – até as atividades projetadas para desenvolver o raciocino lógico-matemático e a linguagem.
Muitas das contribuições de Montessori podem ser vistas até hoje em escolas montessorianas e não montessorianas, como é o caso do Material Dourado utilizado na construção da numeração decimal, e das classes, armários e banheiros proporcionais ao tamanho e à idade da criança.

As contribuições de Célestin Freinet

Enquanto Maria Montessori propunha uma educação mais “individualizada”, centrada na criança, Freinet (1896-1966) se dedicou à educação coletiva, cooperativa e voltada para alunos de meios populares. Preocupado em constituir uma pedagogia social, esse educador via na escola a possibilidade de formar cidadãos para o trabalho livre e criativo. É por isso que suas atividades estão, na maioria das vezes, voltadas para a criação de uma atmosfera laboriosa na escola.

Uma constante preocupação de Freinet era a aplicação de idéias de uma nova educação, uma pedagogia progressista, em meios populares. Sua realidade de trabalho, em Bar-sur-Loup , era bastante pobre, o que dificultava a utilização de materiais “sofisticados”, como os propostos por Montessori.

“Ele queria encontrar técnicas que pudessem ser utilizadas por todos, numa linha de interesse global da classe, sem causar problemas a nenhuma criança, respeitando o rendimento escolar de cada uma”, nos diz Sampaio (s/d., p.18). Como lema de sua conduta, Freinet baseava-se na afirmação de Decroly, de que “a criança é que nos deve conduzir”.

Muitas das atividades pedagógicas que fazemos na escola até hoje, como os “cantinhos de atividades”, aulas-passeio, imprensa escolar e correspondência inter-escolar” são idéias deste pedagogo francês.

A FÚRIA DA BELEZA

A Feira do Livro de Porto Alegre estimula uma boa movimentação na cidade.
Muitos livros, bate-papos, discussões, e alguns encontros inusitados.
Foi mais ou menos assim que fui assistir Elisa Lucinda e a sua fúria poética.
Elisa não precisou ser apresentada, nem entrevistada. Chegou recitando seus versos, contando sua vida e militância pela causa poética. Vive poesia, fala poesia, respira poesia, faz curas com poesia, e é a própria poesia.

A fúria da beleza

Estupidamente bela
a beleza dessa “maria-sem-vergonha”
soca meu peito esta manhã!
Estupendamente funda,
a beleza, quando é linda demais,
dá uma imagem feita só de sensações,
de modo que, apesar de não se ter a consciência
desse todo, naquele instante não nos falta nada.
É um pá, um tapa, um golpe, um bote
que nos paralisa, organiza,
dispersa, conecta e completa!
Estonteantemente linda a beleza doeu
profundo no peito essa manhã.

Doeu tanto que eu dei de chorar.
Por causa de uma flor comum e misteriosa do caminho.
Uma delicada flor ordinária, brotada da trivialidade
do mato,
nascida do varejo da natureza, me deu espanto!
Me tirou a roupa, o rumo, o prumo
e me pôs a mesa...
é a porrada da beleza!
Eu dei de chorar de uma alegria funda,
quase tristeza.
Acontece às vezes e não avisa.
A coisa estarrece e abre-se um portal.
É uma dobradura do real, uma dimensão dele,
uma mágica à queima-roupa
sem truque nenhum.
E é real.
Doeu a flor em mim tanto e com tanta força que eu dei de soluçar!
O esplendor do que vi era pancada, era baque e era bonito demais!
Penso, às vezes, que vivo pra esse momento indefinível,
sagrado, material, cósmico,
quase molecular.
Posto que é mistério, descrevê-lo exato
perambula ermo dentro da palavra impronunciável.
Sei que é desta flechada de luz que nasce o acontecimento poético.
Poesia é quando a iluminação zureta, bela
e furiosa desse espanto
se transforma em palavra!
A florzinha distraída, existindo singela na rua
paralelepípeda esta manhã,
doeu profundo como se passasse do ponto.
Como aquele ponto do gozo, como aquele
ápice do prazer,
que a gente pensa que vai até morrer!
Como aquele máximo indivisível,
que de tão bom é bom de doer,
aquele momento em que a gente pede
para
querendo e não podendo mais querer,
porque mais do que aquilo não se agüenta mais...
sabe como é ?
Violenta, às vezes,
de tão bela, a beleza é!


Elisa Lucinda


Terminou sua mostra poética cantando, à capela, uns versos de João da Cunha Vargas, musicado pela poesia melódica de Vitor Ramil.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

TEMAS GERADORES



A proposta de Paulo Freire parte do estudo da realidade do aluno somado à organização dos dados coletados pelo professor. Nesse processo surgem o que ele denominou de “Temas Geradores”, que são os conteúdos subjetivamente extraídos da problematização da prática de vida dos educandos.
Os temas utilizados no decurso da aprendizagem serão então resultados de uma construção dialógica. Dessa forma, cada individuo ou grupo envolvido na ação pedagógica disporá em si próprio, mesmo que de certa maneira, e a princípio, pouco desenvolvida, os conteúdos necessários dos quais se inicia o processo.
O fator mais importante nesse caminhar não é a transmissão de conhecimentos específicos, mas sim o despertar de uma nova forma de relação com a experiência de vida de cada aluno. Passar conteúdos pré-estruturados, que estejam fora do contexto social daquele que recebe a informação é o que se pode chamar de simples "invasão cultural", ou sendo mais realista, usaremos o aluno apenas como um "depósito de informações".
O ideal na extração de conteúdo para o processo de construção do conhecimento é, antes de qualquer coisa, conhecer o aluno. Temos de mergulhar na realidade dele a fim de sabê-lo enquanto indivíduo inserido num determinado contexto social. Essa é a fonte de onde deveremos explorar nosso material de trabalho. Sem ela estaremos reproduzindo o velho modelo escolar que comprovadamente já se mostrou como o maior obstáculo à aprendizagem, muito mais do que o próprio conteúdo.
O que Paulo Freire sugere é um respeito a “bagagem” de cada indivíduo e inserção de suas experiências como parte constitutiva do seu próprio aprendizado. Dessa forma a participação do educando em conjunto com as buscas do educador será imprescindível à sua alfabetização, o que tornará mais interessante o seu processo.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O CASO DO MENINO VICTOR


Na passagem do século XVIII para o XIX, uma criança que morava nas florestas do sul da França, despertou o interesse dos estudiosos e dos cidadãos comuns. Era um menino aparentando 12 ou 13 anos, mudo, e que também parecia ser surdo. Grunhia como um animal, cheirava tudo que levava as mãos e se locomovia de quatro, dando a impressão de que sempre conviveu somente com seres irracionais.

O menino depois de “capturado”, foi levado para algumas instituições, onde não recebeu nenhum tratamento individual especializado, ou passou por qualquer tipo de observação. Sua passagem por esses lugares chamava a atenção das pessoas, que visitavam o lugar onde ele estava para observá-lo como se estivessem em um zoológico.

Depois de algum tempo, por ordem das autoridades locais da época, ele é levado à Paris, e tratado pelo Instituto Nacional de Surdos-Mudos. Nessa instituição trabalha um jovem médico chamado Jean-Marc-Gaspard Itard, que havia sido aluno de Pinel, e que se interessou muito pelo menino. Itard, ao contrário do mestre Pinel, acreditava que era possível educá-lo e reintegrá-lo a sociedade. O médico alimentou em si a crença de que aquele estado em que se encontrava o garoto era fruto das privações ao contato social que havia sofrido e resolveu provar que estava certo.

Assim sendo, por determinação do governo, que assume o custo anual do menino no Instituto, Itard encarrega-se pessoalmente da educação moral e intelectual do garoto com o firme propósito de torná-lo apto ao convívio. Para auxiliá-lo nessa tarefa ele conta com a ajuda da Governanta, Madame Guérin, que começa a morar com Itard e com a criança, agora chamado pelo nome de Victor.

Em suma, o filme mostra a relação entre o abandono de um menino com problemas de audição e as conseqüentes seqüelas que seu estado acarreta, e um médico que acredita num projeto educativo individual, de acordo com os padrões da época. Itard queria ensiná-lo a falar, mas em nenhum momento pensa em utilizar qualquer outra forma de comunicação que não a padrão. Sua abordagem foi um tanto quanto experimental, embora ele acabe criando um certo afeto pelo garoto. A forma como o médico tenta tirar suas conclusões através das reações de Victor às suas provocações, confirma os objetivos de seus experimentos. Ao fim do filme ele tenta analisar o comportamento moral do menino, testando o efeito de um ato de injustiça. Quando o garoto se rebela diante da provocação do médico, ele conclui então que Victor havia minimamente se tornado um ser civilizado.

Refletir sobre a história do menino Victor é lembrar do quanto os surdos sempre foram considerados inferiores, rejeitados pela sociedade, isolados em asilos, enfim, levando uma vida social cheia de restrições. Pessoas que sempre foram consideradas doentes, ou deficientes.

É importante lembrar dos dois modelos que prevalecem na educação de surdos: o clínico e o sócio-antropológico. O modelo clínico, representado pelo próprio Itard no filme, tentando desenvolver a fala de Victor, e o modelo sócio-antropológico, que enfatiza a cultura e a comunidade surda. A associação de ambas as formas no caso de Victor seria de muita valia em seu tratamento, visto que ele apresentava muito mais problemas comportamentais, em face de fatores como o abandono e a ausência do convívio social. Aos primeiros sinais de compreensão dos valores humanos, o menino chega até a balbuciar algumas palavras, o que representa um desafio inicial no alcance das significações lingüísticas. A continuação para a história do “Garoto Selvagem”, deveria contemplá-lo com um conhecimento mais aprofundado dessas significações. Dessa forma ele galgaria uma primeira conquista, para depois adequá-las à linguagem dos sinais. Um final que está ficando cada vez mais comum entre os surdos da atualidade.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

DIA DO PROFESSOR


Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho.

A data é um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.

Paulo Freire

ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS


Destaco aqui algumas idéias do texto Alfabetização de adultos: ainda um desafio, de Regina Hara, que acho interessante pensarmos e discutirmos, pois considero ausentes em boa parte das relações entre o professor/aluno, principalmente no que se refere à escolarização de um adulto. Primeiro, e acima de tudo, é indispensável enfatizar a importância da construção do saber como parte intrínseca da alfabetização e a relevância contida na "bagagem" do alfabetizando como condição essencial no processo de escolarização. Segundo, ressalto a necessidade de enxergar o aluno adulto não alfabetizado como um ser repleto de conceitos e hipóteses que podem auxiliar imensamente no caminhar da sua aprendizagem. Aqui se faz fundamental considerar como ponto de partida o que eles sabem e não o que ignoram, levando em conta a nossa ignorância sobre o que eles trazem de saber em si. E por último, evidencio o papel do professor como suporte para a apropriação do alfabetizando na aquisição da leitura e da escrita, fazendo com que ele se perceba o sujeito da construção do seu próprio aprendizado.

A partir das idéias do texto, somadas a outras abordagens, como o nosso modo de conceber o processo de alfabetização, podemos compreender melhor o que é importante saber do aluno, na intenção de que essa procura auxilie nesse processo. Dos três fatores que citei, retomo o primeiro, destacando o seu caráter fundamental no que diz respeito à relevância que contém o que o aluno carrega de conhecimento em si. A exemplo dos esquemas de Piaget, que refletem, no indivíduo, seu nível atual de compreensão e conhecimento do mundo, podemos buscar no sujeito desse processo o seu objetivo em se alfabetizar. O que incentiva o aluno adulto a querer aprender a ler e escrever? Creio que devemos professor/aluno buscar juntos essas descobertas. Nosso fazer consiste em auxiliar o aluno no desvelo de seus conhecimentos, criando condições para que elaborem novos saberes.

Ainda não alfabetizei um aluno adulto, mas penso nas semelhanças e diferenças com o modo de aprendizado das crianças, e creio que devemos utilizar os mesmos como objetos de bastante reflexão. Mergulhar em um mundo cheio de curiosidades encobertas pelo véu do analfabetismo e torna-las instrumento de construção do saber, é para nós o objetivo maior do nosso fazer e, para a criança ou adulto, a maior descoberta da vida. A leitura e a escrita traduzem o pensamento em códigos inteligíveis, numa contínua construção, reconstrução e troca de conhecimentos. Se analisarmos os efeitos contrários à direção dessa construção, poderemos enxergar mil maneiras de facilitar o processo de ensino e aprendizagem. Transformar o que o aluno adulto tem vontade de falar em sinais que representem esse desejo, é o oposto do que sempre se fez na escola, que foi fazer esse mesmo aluno entender um amontoado de códigos que muitas vezes não tem relação nenhuma com o que eles querem dizer. Penso que essa é a ponte que liga os pontos da socialização através da comunicação, embora consigamos minimamente nos comunicar mesmo sem ela. Por isso precisamos descobrir o objetivo da alfabetização, ou estaremos só fabricando mais alguns reprodutores de palavras e conceitos pré-estabelecidos.

domingo, 11 de outubro de 2009

PRECONCEITO



O filme “E seu o nome é Jonas” mostra a triste realidade vivida até bem pouco tempo pelos sujeitos que não ouvem.
Jonas, o personagem principal, é um menino surdo e por isso não se comunica e não interage com o mundo a sua volta.
Sua família é composta por pai, mãe e irmão menor. O pai sofre pressão dos amigos, por que esses acham que Jonas tem algum problema mental. Esse pai acaba abandonando a família porque também não consegue compreender o mundo dos surdos.
A escola que Jonas freqüentava era arbitrária no método que utilizava, não permitindo a utilização da língua de sinais por seus alunos.
Antes disso, teve um diagnóstico errado e acabou passando alguns anos em uma instituição para deficientes mentais.
Sua mãe nunca se conformou a idéia de ver Jonas “fora” da vida. Foi incansável na procura de algo que minimizasse seu sofrimento.
Jonas acabou encontrando pessoas que utilizavam a língua de sinais e então teve oportunidade de conhecer a comunidade surda.
Quando ele aprendeu a língua de sinais, seu mundo se ampliou e parece que de fato passou a viver e a sorrir.
É um filme comovente porque mostra a trajetória de sofrimento imposta pela cultura preconceituosa que predominava na época.
Acredito que ainda hoje, situações como as apresentadas no filme, ainda possam ocorrer em comunidades que tem pouca informação e conhecimento.
De certa forma, na periferia, ainda vemos crianças que sofrem abandono e negligência da família por serem surdas e acabam vivendo e crescendo trancafiadas em casa, longe do convívio social.
De qualquer forma, penso que esse número de desinformados vem diminuindo e o que cresce é a idéia de que surdez não é deficiência e sim cultura, compreendendo que a única impossibilidade do surdo é escutar.

AS HISTÓRIAS QUE AS CRIANÇAS CONTAM


As histórias que as crianças contam são um dos elementos mais importantes para o seu desenvolvimento cognitivo e afetivo.
A criança quando narra uma história está trazendo a tona um universo de experiências acumuladas em situações diárias, bem como misturando fantasia e realidade, de maneira a construir sua própria maneira de lidar com as coisas.
Como é a linguagem que organiza o pensamento, é essa narrativa que vai contribuir para que a criança compreenda o mundo em que vive e para que elabore os seus sentimentos.

Abaixo, leia a transcrição de uma pequena história contada por Caroline que tem 6 anos. Caso queira escutar, clique aqui .

Aladim tinha 4 desejos a causar inveja um gênio chamado Abul para realizar seus desejos. Aladim estava apaixonada pela princesa Jasmine que só poderia se casar com um príncipe. Então ele pediu ao gênio transformar em príncipe e ele ficou um príncipe. E depois pediu ao seu pai dar a mão da sua filha para se casar “alela” e depois no tapete voador levou ela e depois um beijo de amor e depois viveram felizes para sempre.


Caroline, ao contar a história, mostra uma postura letrada, pois mesmo sem saber ler, conta a história pausadamente, como se estivesse lendo. Ela traz elementos de narrativas que já ouviu em relatos cotidianos ou em histórias contadas por adultos. Aliás, é o adulto o seu modelo na forma de se comunicar.
Ao ouvir essa narrativa o professor poderia ter perguntado algumas questões sobre a história, por exemplo, sobre os outros desejos de Aladim. O papel do professor nesse processo é fundamental, pois é importante que haja uma relação de cumplicidade entre a criança e seu interlocutor. Ele deve embarcar na fantasia da criança, pedindo mais detalhes e principalmente acreditando no quanto é saudável e necessário esse jogo de “verdade e mentira” que a criança traz nas suas narrativas

domingo, 27 de setembro de 2009

CULTURA SURDA

Sendo professora da rede pública municipal de Porto Alegre já poderia ter tido em sala de aula, um aluno surdo. Porém minhas experiências com surdos fazem parte de minhas vivências fora do trabalho e da família. Meus únicos contatos se deram em lugares do dia-a-dia, como no supermercado, no transporte, ou na rua.
Em primeiro lugar, cabe uma definição sobre quem é a pessoas surda: é aquela pessoa que está privada do sentido da audição; que não consegue compreender a fala através da audição e que por isso interage com o mundo utilizando experiências visuais.
A definição de surdo/surdez, porém, passa muito mais por uma identidade grupal do que por uma característica física. Essa identidade vem sendo construída há pouco tempo aqui no Brasil. Desde então o surdo passou a lutar pelo direito de ter sua língua e sua cultura reconhecida como fazendo parte de um grupo minoritário, e não como um grupo de “deficientes”.
A forma ideal de comunicação com uma pessoa surda requer o estabelecimento de um contato visual, portanto é fundamental conversar com um surdo olhando nos olhos.
Uma maneira de chamar a atenção é dar um suave toque no ombro ou no braço, acenar, dar leves batidas no chão ou ainda piscar a luz. Para se fazer entender, pode ajudar a ação de apontar, desenhar, escrever, dramatizar e utilizar diversas expressões faciais. Todos esses recursos são essenciais quando não há domínio da língua de sinais.
Um aspecto importante e de valorosa compreensão da comunidade surda é o fato de que ela não é composta apenas por sujeitos surdos, mas também por ouvintes, membros da família, intérpretes, professores e amigos. Pessoas que escutam e compartilham suas experiências com eles.
Saliento que uma questão necessária para interagir com uma pessoa surda é justamente esse reconhecimento do sujeito surdo como ser humano que é, tentando trocar sentimentos, sensações e vivências como fazemos em todas as relações que estabelecemos.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

FALANDO DE LETRAMENTO


Existe hoje, uma crescente preocupação em estudar, explicar e teorizar o fenômeno social chamado letramento.
Segundo Ângela Kleiman, em seu texto intitulado “Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola” (Kleiman 2006), A palavra letramento não é sinônimo de alfabetização, porque esse conceito explora a questão somente da aquisição de códigos (alfabético e numérico).
Em algumas classes sociais as crianças são letradas quando possuem estratégias orais, antes de serem alfabetizadas. Dessa forma, elas conseguem fazer relações com o texto escrito e demonstram isso através da oralidade. Passam a ter uma oralidade letrada. Compreendem o que aprendem em nível conceitual, fruto da intertextualidade que trazem em sua bagagem de conhecimentos. A escola, devendo ser um espaço de construção desse conhecimento, desconsidera o viés social do letramento e se caracteriza pela linguagem padrão, enrijecendo o aprendizado.
No presente texto, a autora argumenta a correlação entre o desenvolvimento da escrita e o desenvolvimento cognitivo e faz uma citação a dois modelos de letramento que se contrapõem: o “modelo autônomo” e o “Modelo Ideológico” (Kleiman apud Street, 1984). Ângela Kleiman afirma que as práticas de uso da escrita, exercidas no ambiente escolar, sustentam-se em modelos equivocados, que não condizem com a concepção de letramento dominante na sociedade. É o caso do “Modelo Autônomo”, que pressupõe a existência de apenas um modo de desenvolver na criança o progresso, a civilização e a mobilidade social.
Ainda de acordo com a autora, o segundo modelo refletiria um modo ideal de letramento social, onde se defende a tese de que o letrado precisa compreender significados específicos contidos na escrita, com a existência de características de grandes áreas divididas entre as práticas orais e letradas.

domingo, 13 de setembro de 2009

O PENSAMENTO INFANTIL SOBRE OS FENÔMENOS NATURAIS


Foi ao acaso que acabei encontrando uma matéria interessante na revista Nova Escola de junho de 2009.
Ela trata sobre como as crianças criam teorias e explicam os fenômenos naturais. Vindo bem ao encontro de nossas discussões sobre concepções ingênuas e senso comum.
Há também um vídeo bem interessante com o mesmo nome.
Vale a pena lembrar o leitor:
Concepções Ingênuas são teorias que crianças e adultos constroem sobre o mundo através de experiências e evidências, baseadas em fatos e situações que estão a sua volta. Essas idéias estão diretamente relacionadas com aquilo que vêem e experimentam.

http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/desenvolvimento-e-aprendizagem/pensamento-infantil-fenomenos-naturais-475516.shtml

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

CONTANDO HISTÓRIAS


Fiz as primeiras, de uma série de contações de histórias da Índigo, na semana passada.
Atendi na biblioteca turmas de C10, C20 e CP.
São todos adolescentes vindos de férias prolongadas e sedentos de escola e atividades.
Antes do livro propriamente dito, contei um pouco das coisas que sabia da vida da autora. Idade, onde mora, profissão, são dados que interessam ao público.
Havia previamente escrito os endereços de email e blog da autora.
Li quatro contos às turmas que, por serem pequenos, exigem atenção redobrada.
Percebo que esse trabalho de espera em receber a visita e conhecer a autora escolhida, por parte das turmas, exige um planejamento integrado das atividades de Língua Portuguesa, Informática e da própria biblioteca.
Dessa forma, os contos poderiam ser trabalhados com mais aprofundamento.
No ambiente informatizado, os alunos poderiam fazer contato com a autora, através de e-mail, bem como visitar o blog dela e postar comentários.
Na escola, uma das coisas mais complicadas que se vê é a falta de “costura” entre as áreas de conhecimento, entre os projetos que existem e os projetos que são criados.

domingo, 30 de agosto de 2009

COMÊNIO



Jan Amos Comênio (1592-1670) é o "pai da Didática"
Professor, pastor e bispo da sua comunidade religiosa, ele teve uma produção literária impressionante, em torno de 150 trabalhos e livros, e ficou conhecido na Europa inteira. Inicialmente como professor de latim, a língua franca da época, ele desenvolveu um novo sistema para ensinar língua estrangeira.
Outra obra importante foi seu livro didático, o "Orbis Sensualium Pictus" (o mundo desenhado), no qual ele juntou gravuras, frases simples, sons e letras para a alfabetização e frases em latim para que os alunos pudessem, com um único livro, aprender a ler, escrever e conhecer o mundo a partir da visualização. Este livro foi utilizado nas escolas por mais de 100 anos.
A grande obra pedagógica, porém, foi a "Didática Magna" (1657), inicialmente escrita como "Didática checa", na qual ele desenvolveu suas idéias sobre o ensino. Já no prefácio,
Comênio revela seu interesse pelo método: "A proa e a popa da nossa Didática será investigar e descobrir o método segundo o qual os professores ensinem menos e os estudantes aprendam mais”.

Quatro pontos importantes das idéias de Comênio:

1.A consideração do aluno
2.O ensino igual para todos
3.O realismo do ensino
4.Bom relacionamento entre professor-aluno

As idéias de Comênio não parecem tão distantes, não é mesmo?

Fonte de pesquisa

Texto 3: DOLL, Johannes; ROSA, Russel Teresinha Dutra da. A metodologia tem história. In: _______ (orgs.). Metodologia de Ensino em Foco: práticas e reflexões. Porto Alegre: UFRGS, 2004, p.26-29.

O MENININHO


Esse texto nos faz pensar que a escola é lugar de criação e de autoria.
E que o mais importante é tentar libertar o aluno das correntes da repetição e do adestramento. Repetir o que faz a professora é uma forma de alienação.
Mas aqui quem precisa se libertar primeiro é o professor. É ele que precisa ser criativo e autor de sua aula.
Nos leva a pensar: que marcas, da nossa prática pedagógica, queremos deixar nos alunos?



“O Menininho”


Helen Buckley

Era uma vez um menininho bastante pequeno que contrastava
com a escola bastante grande.
Quando o menininho descobriu que podia ir à sala
caminhando pela porta da rua, ficou feliz. A escola não parecia tão
grande quanto antes.
Uma manhã a professora disse:
- Hoje nós iremos fazer um desenho.
“Que bom!”, pensou o menininho. Ele gostava de desenhar.
Leões, tigres, galinhas, vacas, trens e barcos... pegou sua caixa de
lápis de cor e começou a desenhar.
- Esperem, ainda não é hora de começar!
Ela esperou até que todos estivessem prontos.
- Agora, nós iremos desenhar flores.
E o menininho começou a desenhar bonitas flores com seus
lápis rosa, laranja e azul.
- Esperem, vou mostrar como fazer.
E a flor era vermelha com o caule verde.
- Assim, disse a professora, agora vocês podem começar.
O menininho olhou para a flor da professora, então olhou para
a sua flor. Gostou mais da sua flor, mas não podia dizer isto... virou
o papel e desenhou uma flor igual a da professora. Era vermelha
com o caule verde.
No outro dia, quando o menininho estava ao ar livre, a
professora disse:
- Hoje nós iremos fazer alguma coisa com o barro.
“Que bom!” pensou o menininho. Ele gostava de trabalhar
com o barro. Podia fazer com ele todos os tipos de coisas: elefantes,
camundongos, carros e caminhões. Começou a juntar e amassar sua
bola de barro.
- Esperem, não é hora de começar!
Ela esperou até que todos estivessem prontos.
- Agora nós iremos fazer um prato.
“Que bom!”, pensou o menininho. Ele gostava de fazer pratos
de todas as formas e tamanhos.
- Esperem, vou mostrar como se faz. Assim... Agora vocês
podem começar.
E o prato era fundo. Um lindo e perfeito prato fundo.
O menininho olhou para o prato da professora, olhou para o
próprio prato e gostava mais do seu, mas ele não podia dizer isso...
amassou seu barro numa grande bola novamente e fez um prato
fundo, igual ao da professora.
E muito cedo o menininho aprendeu a esperar e a olhar e a
fazer as coisas exatamente como a professora. E muito cedo ele não
fazia mais as coisas por si próprio.
Então, aconteceu que o menininho teve que mudar de escola...
Esta escola era ainda maior que a primeira.
Ele tinha que subir grandes escadas até a sua sala...
Um dia a professora disse:
- Hoje nós vamos fazer um desenho.
“Que bom!”, pensou o menininho. E esperou que a professora
dissesse o que fazer. Ela não disse. Apenas andava pela sala.
Quando veio até o menininho falou:
- Você não quer desenhar?
- Sim. O que é que nós vamos fazer?
- Eu não sei, até que você o faça.
-Como eu posso fazer?
- Da maneira que você gostar.
- E de que cor?
- Se todo mundo fizer o mesmo
desenho e usar as mesmas cores, como eu
posso saber qual o desenho de cada um?
- Eu não sei!
E começou a desenhar uma flor vermelha com um caule verde...

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

COBRAS EM COMPOTA


Em 2006, o Ministério da Educação concedeu a Índigo o prêmio Literatura para Todos pelo seu livro Cobras em Compota. Todas as escolas públicas do país receberam exemplares da obra.
A autora recorda memórias da infância, convidando cada um ao encontro com a fantasia, a imaginação e a divagação.
Sutileza, leveza e ironia são elementos presentes nos textos e têm a intenção de aguçar o seu olhar para os acontecimentos do cotidiano.

Transcrevo aqui um conto:

O pintinho e o analista

Um dos motivos por que não faço terapia
é por saber que lá pelas tantas o analista
vai perguntar:
“Qual é a sua primeira memória de infância?”
E como estarei pagando os olhos da cara,
vou me sentir na obrigação de dizer a verdade.
Mas como é que se diz: “sou eu correndo
atrás de um pinto”, sem abrir espaço
para as interpretações mais estapafúrdias?
Era um desses pintinhos amarelos de
feira. Naquela época crianças ganhavam
pintos quando iam à feira com suas mães.
Seu nome era José, e quando busco a mais
remota das lembranças, é esse pinto que
encontro. José correndo pela escada de incêndio,
e eu atrás, chamando por ele. José
some e eu volto para casa sem o pinto.
Dito isto, o analista vai tossir e fazer um
barulhinho do tipo:
“A-hã...”
Isto me irritará profundamente e eu começarei
a me explicar melhor, o que apenas
piora a situação.


*Que não é lógico; disparatado; incoerente.

ADOTE UM ESCRITOR

Volto a falar em Adote um Escritor, programa de leitura que iniciou em 2002 que é resultado de uma parceria entre SMED/ POA e a Câmara Rio-Grandense do Livro. Tem por objetivo o contato pessoal desses sujeitos com autores de obras de gêneros literários diversos, bem como amplia e diversifica o processo de letramento da comunidade escolar. As escolas “adotam” um escritor (local ou nacional) e, para recepcioná-lo, desenvolvem, com os alunos, processos de leitura de suas obras e de criação a partir dessas leituras.
Na escola em que trabalho, o coletivo de professores decidiu que, a cada ano, um ciclo seria contemplado com a visita do escritor.

Em novembro de 2007, era a vez de Marô Barbieri , encantando as crianças do 1º Ciclo. Em 2008, Celso Gutfriend foi conversar com os alunos da EJA e em 2009, o IIIº Ciclo foi contemplado com a visita da escritora Índigo.
Quem é a Índigo??
O próximo passo é apresentar a obra de Indigo aos alunos.
Vamos começar por Cobras em Compota??

RECOMEÇO


Se pensarmos que o todo tem 9 partes e já percorremos quase 7, o fim está logo ali.
Recomecemos, então!

Nesse sétimo semestre as disciplinas serão:

DIDÁTICA, PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS
LINGUAGEM E EDUCAÇÃO
SEMINÁRIO INTEGRADOR VII

quinta-feira, 11 de junho de 2009

AUTISMO

O texto "Autismo: Atuais interpretações para antigas observações", de Cleonice Bosa, traz as diferenças nas descrições das primeiras publicações de Leo Kanner (1943) e Hans Asperger (1944), com as suas suposições teóricas sobre essa síndrome, até então desconhecida, o autismo. Aponta algumas características encontradas nas crianças estudadas por Kanner:
-incapacidade de estabelecer relações normais o que leva a criança a negligenciar, ignorar ou recusar tudo que vinha do exterior;
-atraso na aquisição da fala e uso não-comunicativo da mesma;
-dificuldades na atividade motora global contrastando com uma surpreendente habilidade na motricidade fina
-insistência obsessiva na manutenção da rotina
-observou bom nível sócio-cultural dos pais dessas crianças, bem como frieza em suas relações
As descrições de Asperger (1944) são na verdade mais amplas que as de Kanner, cobrindo características que não foram levantadas por Kanner. Uma delas diz respeito à dificuldade de fixar o olhar em situações sociais.
Embora ocorram algumas diferenças, a questão mais importante é que ambos identificaram as dificuldades no relacionamento interpessoal e na comunicação como as características mais intrigantes do quadro.
Na década de 60 esse quadro clássico já havia se alterado, pois observavam que algumas crianças não correspondiam exatamente àquelas descrições. Durante muito tempo prevaleceu a idéia de que autistas são pessoas alheias ao mundo ao redor, não tolerando o contato físico, não fixando o olhar nas pessoas e interessando-se mais por objetos do que por outras pessoas ou ainda, nem mesmo discriminando seus pais de um estranho na rua. A mídia e a literatura debruçaram-se sobre a imagem do “gênio” disfarçado, engajado em balanços do corpo e agitação repetitiva dos braços. A troca de conhecimento, o avanço nas pesquisas e a facilidade na comunicação auxiliaram na transformação desse quadro.
O texto deixa claro que não existe modelo teórico para explicar de forma abrangente a complexidade dessa síndrome. A experiência clínica e a pesquisa devem andar juntas para que mitos não sejam gerados nem tão pouco se aprisione o conhecimento.

terça-feira, 9 de junho de 2009

CONCEPÇÕES DE ÍNDIO


O texto OS ÍNDIOS NO BRASIL QUEM SÃO E QUANTOS SÃO extraído do Livro “O Índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje” de Gersen dos Santos Luciano – Baniwa, deixa claro que a denominação índio ou indígena significa nativo, natural de um lugar. Porém, sabe-se que essa denominação é utilizada, desde os tempos de Cristóvão Colombo, para os habitantes do continente americano. A história nos explica que em 1492, partindo da Espanha rumo às Índias, Colombo, após enfrentar fortes tempestades, ficou com a frota à deriva, chegando a uma região que o navegador pensou ser as Índias. Desse acontecimento originou-se o nome dado aos habitantes encontrados pelo navegador: “índios”.
Assim, para muitos, essa denominação está carregada de discriminação e preconceito contra os povos nativos da região. A figura do índio representa um ser sem civilização, sem cultura, incapaz, selvagem, preguiçoso, traiçoeiro, etc...
A partir da década de 1970, com o surgimento do movimento indígena organizado, os povos indígenas do Brasil resolveram manter, aceitar e promover essa denominação genérica de índio ou indígena, como uma identidade que fortalece todos os povos originários do atual território brasileiro. Após essa mudança para uma marca identidária e multiétnica é que os índios passaram a se tratar como parentes. Esse novo termo de tratamento, não significa que sejam iguais, mas que compartilham de interesses comuns e, principalmente, simboliza a superação do sentimento de inferioridade imposto por aqueles que colonizaram essas terras.
Uma questão importante em sala de aula é a utilização do livro didático. Esse, às vezes, é o único material impresso disponível utilizado como fonte de informação. O mais comum é encontrar nos livros uma referência dos índios no passado. Como se eles fizessem parte de um tempo que não existe mais e existissem apenas em função das histórias contadas sobre a colonização. Seu papel fundamental na real descoberta das Américas, raramente é citado, ou abordado de forma verdadeira. O foco glorificante da história é dado aos europeus, supostos descobridores dessa terra. Seus feitos e descobertas, as complicadas e heróicas navegações, explicam a origem de uma região, na verdade “encoberta” pela hegemonia européia.
Enquanto enxergarmos o mundo através das grades da nossa cultura, ignorando as especificidades dos povos, como se todos falassem a mesma língua, e partilhassem de uma mesma cultura, estaremos negando a cultura de cada grupo.
À sua maneira, as culturas indígenas expressam os grandes valores universais. Nas solenidades das festas, no refinamento dos vestidos e na pintura corporal, na educação dos filhos, na concepção sagrada do cosmos, é manifestada a consciência moral, estética, religiosa e social.
Para acabar com o preconceito, é essencial mostrar e valorizar a diversidade étnica.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

PARA FICAR PENSANDO...


Sobre Projetos de Aprendizagem, tenho pensado algumas questões que são bem simples e, por isso mesmo, meio óbvias.
A primeira diz respeito às perguntas. A sala de aula sempre se consagrou como sendo um espaço de respostas e hoje, nessa perspectiva de Projetos de Aprendizagem, o local passa a ser um espaço de perguntas. E é aí que aparece a dificuldade. Fazer perguntas é uma arte.Talvez responder seja mais fácil.
A outra questão diz respeito a mim mesma. Como “formar” um aluno-pesquisador se não consigo ser uma professora-pesquisadora?

domingo, 31 de maio de 2009

EDUCAÇÃO APÓS AUSCHWITZ


Conhecido como um dos piores massacres da história da humanidade, o holocausto, termo utilizado para descrever o extermínio de diversas pessoas na Europa nazista, mostra a monstruosidade e barbárie a que o ser humano foi submetido.
Para Theodor Adorno, em seu texto “Educação após Auschwitz”, pensar que aquele episódio nunca mais se repetirá, é uma exigência. Ele traz a idéia de que a educação se opõe às barbáries que ocorreram e que poderão ocorrer novamente.
Há em seu texto uma menção à tese de Freud sobre o mal-estar na cultura, a respeito da claustrofobia que a humanidade sofre, em contraste com o contexto estruturado e socializado denominado “civilização”. O sujeito tenta sair dessa rede sem conseguir, gerando raiva contra as normas da citada civilização. Essa revolta torna-se, por vezes, como bem denominou Adorno, brutal e irracional. Sob o ponto de vista sociológico, ele ousa complementar esse pensamento, inclusive, afirmando que a nossa sociedade, embora se integre cada vez mais, incuba simultaneamente tendências desagregadoras.
Trazendo esse raciocínio para o atual cotidiano da educação escolar, observa-se vidas individualizadas, pessoas que, embora façam parte de um grande grupo “civilizado”, amargam na mais profunda solidão. Esse é um perfil comum nas escolas, onde o aluno precisa dar conta de si e das suas necessidades. Em que ele é incumbido de uma porção de responsabilidades que nem sempre consegue dar conta. Tudo isso associado, muitas vezes, a uma instituição familiar inexistente, ou ausente. Assim, crescem e fatalmente reproduzem essa mesma desestrutura, onde os filhos normalmente são criados e educados pela a avó, que assume, de alguma ou qualquer forma, o núcleo familiar.
Essa distância da família gera uma falta irreparável no aluno. E a privação de uma referência familiar, por si só, já causa um déficit na educação, sobretudo na primeira infância. Quando associada à ausência total ou mesmo parcial de esclarecimentos sobre essa realidade, o que é uma práxis social, torna a iminência da barbárie uma verdade pavorosa. São aquelas aprendizagens de valores, conceitos, regras e civilidade que, de certa forma, é a família quem proporciona. E a escola tem um papel fundamental nesse processo, principalmente no que se refere à consciência dos mecanismos que podem levar uma criança a se tornar um adulto representante do retorno à barbárie.

SER NEGRO


Trabalho em uma Escola Municipal no extremo sul de Porto Alegre. A escola nasceu no interior de um assentamento feito pelo poder publico. As famílias que foram ali assentadas, em torno de 600, vieram inicialmente de diversas regiões, entre elas, algumas áreas de risco em Belém Novo e alguns moradores da orla do Guaíba.
A Escola atende em torno de 1.200 alunos e trabalha com os filhos dessas famílias que não são, em sua maioria, negras.
Atendemos na escola uma população de alunos negros muito pequena e ao contrário da maioria dos locais, um grande número de professores negros. Aliás, tínhamos até o ano passado, muitos professores que entraram pelo sistema de cotas.
Trago essas informações para tentar entender a admiração e surpresa dos alunos ao serem questionados sobre “ser um aluno negro naquela escola”.
Os cinco alunos que entrevistei, dentre 11 e 13 anos, ficaram muito surpresos com a minha pergunta, pois disseram nunca ter sofrido nenhum tipo de discriminação. As perguntas foram diretas e me preocupei primeiro em saber se eles tinham consciência de que eram negros. Perguntei: qual a tua cor? Todos os cinco responderam: sou negro(a). E continuei minhas indagações no sentido de saber seus sentimentos com relação à sua cor dentro da escola. Suas respostas permeavam sempre os mesmos significados: Como assim? Me sinto normal. Um disse: Não entendi! Repeti a pergunta detalhando-a um pouco mais e ele me retornou: me sinto bem! Continuei desenvolvendo diálogos diferenciados, com cada um, individualmente, de acordo com o desenrolar de suas respostas.
É bem certo que, de alguma forma, já devam ter sofrido alguma discriminação, visto que, o preconceito racial é ainda uma realidade. Em todas as conversas, no fundo, encontrei subjetivos pontos que me fizeram pensar nisso. E me chamou atenção a falta de consciência dessa situação por parte dos alunos que entrevistei.
Penso que o fato de haver uma porção significante de professores negros, talvez mascare a sensação de preconceito, haja vista a presença constante de atitudes voltadas para convivência entre negros e brancos dentro da escola. O dia 20 de novembro, dia da consciência negra, por exemplo, é uma data instituidamente significante em nossa escola. Um dia em que estimulamos uma mais complexa reflexão sobre o assunto. De qualquer forma, identifiquei nesses alunos uma naturalidade intrínseca referente à sua afro-descendência.
Dentre os aspectos que observei mais superficialmente, há um que chama bastante atenção. Dos cinco alunos, três expressam, através de características físicas, mostras de uma cultura diferenciada. Usam tranças, tererês e penteados que, de certa forma, os fazem assumir a sua negritude. Mas, diante dos diálogos desenvolvidos, percebi que isso não se dá de forma consciente. Faz parte, de uma moda sugestionada, onde se convencionou comportamentos iguais e padrões estéticos.
Dentro dessa ótica, destaco algumas dimensões afro-culturais visualizadas. Observei o movimento, caracterizado pela dança, percussão e ritmos que são elementos presentes no cotidiano escolar. A família dos citados alunos parecem também levar sua afro-descendência da mesma forma que os filhos, sem muita compreensão dos aspectos históricos e culturais que os envolvem. Posso dizer que isso é tão forte, que eles próprios geram preconceito contra si mesmos, pois, volta e meia escuto negros usando palavras que disseminam racismo. Isso reforça um pensamento historicamente incutido na consciência das pessoas. Creio que o ideais racistas conscientes, ou inconscientes possam estar escondidos atrás de fatores éticos ou morais, tacitamente acordados pelos educadores.

sábado, 30 de maio de 2009

O CLUBE DO IMPERADOR


O filme “O clube do imperador” traz uma dúvida sempre atual: a formação do caráter acontece a partir da interferência da família ou da escola?
Trata também da devoção com que o professor William Hundert encarava seu trabalho e de uma forma geral, sua vida. Suas ações eram determinadas pela força de sua integridade moral. Ele acreditava ser possível transformar os estudantes em homens íntegros.
Um fato importante do filme é a chegada de um novo aluno na sala de aula: Sedgewick Bell. Ele mostra um comportamento diferente dos outros. É filho de um senador e age sempre com rebeldia, empáfia e arrogância. O professor depois de muita afronta por parte desse aluno, tenta modificar o seu caráter e estabelecer uma relação de confiança com ele. Diante disso, Hundert se coloca num conflito moral. Ele altera a nota de um aluno que fica em terceiro lugar em favor de Sedgewick, na tentativa de estimula-lo a mudar sua conduta.
Fica muito claro nesse momento os princípios morais que envolvem essa situação: honestidade, integridade e ética.
Ao papel da escola deve-se incluir sim, a formação do caráter de seus alunos. A questão é que essa tarefa não é missão somente da escola. Cabe à família fazer também a sua parte.
No filme o professor segue o pior caminho. Assume uma atitude de violência com seus princípios morais e, obviamente, não obtém o resultado que esperava. Ele erra consigo, transgride a ordem normal que assegura o legítimo terceiro lugar a quem o merece e peca mais ainda com o aluno rebelde, ou seja, sua atitude simplesmente não ajudou ninguém.
Analisando todas essas questões, acredito que uma conduta correta seria, sem sombra de dúvida, uma simples parceria entre a escola e a família. Hundert ainda tentou fazer isso buscando ajuda com o pai de Sedgewick, mas acabou por conflitar-se com seus valores morais, optando por uma ação infeliz.

ESTÁDIOS DE DESENVOLVIMENTO SEGUNDO PIAGET


De acordo com Jean Piaget o desenvolvimento cognitivo é um processo de sucessivas mudanças das estruturas cognitivas, sendo cada uma constituída pela estrutura anterior.
Essas construções são denominadas por Piaget de estádios e o que determina se uma criança está em um ou em outro estádio, não será sua idade, mas as características cognitivas, sua maneira de pensar e de agir.
São eles:

Estádio Sensório-motor (0 a 2 anos) - a atividade cognitiva desse período baseia-se nas experiências imediatas através dos sentidos. Há ausência da linguagem; a busca visual é um comportamento sensório - motor. A aprendizagem se dá através dos sentidos e o ambiente externo afeta essa relação.
No recém nascido as funções mentais limitam-se ao exercício dos aparelhos reflexos inatos. Assim sendo, o universo que circunda a criança é conquistado mediante a percepção e os movimentos (como a sucção, o movimento dos olhos, por exemplo).

Estádio Pré-operatório (2 a 7 anos) – o pensamento da criança é marcado pela intuição, pela percepção imediata da realidade. Nesse estádio, a criança já é capaz de representar suas vivências e sua realidade.
A irreversibilidade do pensamento é outra característica desse período. A criança não compreende a reversibilidade das relações.
O pensamento da criança pré-operatório é egocêntrico porque há um desequilíbrio entre os processos de assimilação e acomodação; a criança não concebe uma realidade da qual não faça parte, devido à ausência de esquemas conceituais e da lógica.

Estádio Operatório–concreto (7 aos 12 anos) – é nesse período que adquire a capacidade de realizar operações lógicas de classificação e seriação, conservações físicas de substância, peso e volume e conservações espaciais de comprimento, área e volume e conceito de número.
Um outro aspecto importante neste estádio refere-se ao aparecimento da capacidade da criança de interiorizar as ações, ou seja, ela começa a realizar operações mentalmente e não mais apenas através de ações físicas, típicas da inteligência sensório-motor. (se lhe perguntarem, por exemplo, qual é a vareta maior, entre várias, ela será capaz de responder acertadamente comparando-as mediante a ação mental, ou seja, sem precisar medi-las usando a ação física).

Estádio Operatório-formal (12 anos em diante) – é nessa etapa que a criança realiza raciocínios abstratos, não recorrendo ao contato com a realidade. É nessa fase que a criança pensa e formula hipóteses; capaz de formar esquemas conceituais abstratos e através deles executar operações mentais dentro de princípios da lógica formal.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

ENTRE OS MUROS DA ESCOLA


Quem já viu o filme e é professor vai reconhecer, em alguns personagens, alunos com quem já trabalhou em sala de aula ao longo de sua carreira. Principalmente se já teve oportunidade de trabalhar em escolas públicas de periferia da cidade.
Dá para reconhecer semelhanças e divergências entre aquela escola e as escolas públicas de Porto Alegre. Uma que me chamou atenção, é o alto nível de respeito que existe na sala de aula. Pelo que tenho visto nesses 17 anos de rede pública municipal, as coisas por aqui são bem diferentes.
Está altamente recomendado!
É um filme que extrapola os muros da escola porque desnuda a relação professor-aluno e permite que muitas discussões venham à tona.
Espero que qualquer debate se embase muito mais em torno da educação do que como crítica de cinema.

CINCO CABEÇAS PENSAM MUITO

As imagens indianas são coloridas e muito bonitas. Elas enchem meus olhos de vida e movimento!
A imagem de Brahma com suas cinco cabeças me levou a nova atividade sobre Projetos de Aprendizagem. Escolhemos quem serão nossos parceiros de trabalho.
No primeiro PA, os grupos foram formados pela questão que cada um levou, isto é, havia uma afinidade temática.
Agora, os grupos estão sendo formados por afinidade entre as pessoas.
Um novo grupo se forma. Só que agora as pessoas se procuram porque acreditam que juntas possam construir algumas aprendizagens.
É isso: acreditamos que podemos aprender juntas!
Para que essa aprendizagem se concretize, vamos realizar acomodações nas estruturas já existentes para assimilar as novidades!
Conhecimento é isso.
Vamos estabelecer relações entre o novo e o velho, assimilando o novo e transformando o velho, produzindo indefinidamente novos conhecimentos.
Se uma cabeça sozinha pensa muito, imagina a produção intelectual das cinco?

Para saber mais sobre a imagem


O Hinduismo é uma das religiões mais antigas do mundo.
Os hindus são politeístas (acreditam em vários deuses).
São os principais: Brahma (representa a força criadora do Universo); Ganesha (deus da sabedoria e sorte); Matsya (aquele que salvou a espécie humana da destruição); Sarasvati (deusa das artes e da música); Shiva (deus supremo, criador da Ioga), Vishnu (responsável pela manutenção do Universo).
Brahma é representado com quatro cabeças, mas originalmente, era representado com cinco. O ganho de cinco cabeças e a perda de uma é contado numa lenda muito interessante. De acordo com os mitos, ele possuía apenas uma cabeça. Depois de cortar uma parte do seu próprio corpo, Brahma criou dela uma mulher, chamada Satrupa, também chamada de Sarasvati. Quando Brahma viu sua criação, ele logo se apaixonou por ela, e já não conseguia tirar os olhos da beleza de Satrupa.
Satrupa ficou envergonhada e tentava se esquivar dos olhares de Brahma movendo-se para todos os lados. Para poder vê-la, ele criou mais três cabeças, uma à esquerda, outra à direita e outra logo atrás da original. Então Satrupa voou até o alto do céu, fazendo com que Brahma criasse uma quinta cabeça olhando para cima. Foi assim que Brahma veio a ter cinco cabeças. Da união de Brahma e Satrupa, nasceu Suayambhuva Manu, o pai de todos os humanos.

domingo, 19 de abril de 2009

MOSAICO ÉTNICO-RACIAL


Construí o mosaico étnico-racial com alunos de B20(quarta série). Esse ano estou sem turma e por isso, pedi a uma colega que me permitisse realizar a atividade em sua sala.
Os conteúdos estudados nesse ano-ciclo têm como foco o estado do Rio Grande do Sul. Pensei em trazer como viés a influência dos imigrantes na formação do nosso estado. A partir daí levei os alunos a lembrar de nossos ancestrais.
Reforçando isso e utilizando um livro de histórias, mapa-múndi, espelho, papel, lápis e lápis de cor, pedi aos alunos que desenhassem seus rostos, observando cuidadosamente suas características.
Eles gostaram muito do trabalho e participaram ativamente. Fizeram colocações pertinentes e trouxeram exemplos importantes sobre as suas ancestralidades.

Durante a realização dos desenhos e pinturas houve aquele pedido, quase tradicional, entre os alunos:

-“Me empresta o lápis cor de pele?”

Não pude deixar essa oportunidade passar e logo questionei:

-“Como assim cor de pele? Pele de quem? Minha? Tua?”

Conversamos sobre o quanto somos diferentes e o quanto somos iguais!

Iguais, mas no direito à vida!

sábado, 18 de abril de 2009

RUBEM ALVES

“Para entender é preciso esquecer quase tudo o que sabemos. A sabedoria precisa de esquecimento. Esquecer é livrar-se dos jeitos de ser que se sedimentaram em nós, e que nos levam a crer que as coisas têm de ser do jeito como são. (...)”. (Rubem Alves)

Estou trazendo a poesia de Rubem Alves aqui para o blog, com marcador de Educação Especial, com o simples propósito de alimentar nossa discussão poéticamente.
Quando li essa poesia, lembrei do quanto é importante a gente tentar se livrar desses “jeitos sedimentados” que existem em nós.
Quando penso em uma postura docente inclusiva, penso que se faz necessário a “afirmação da diferença”, num processo em que as pessoas sejam aceitas e valorizadas por suas singularidades, ao invés de se buscar uma “igualdade” entre todos.

Mosaico Étnico-Racial

Para trabalhar o mosaico étnico-racial em sala de aula, recorri à vários livros infantis.
Mas foi o livro “ Histórias da Preta” de Heloisa Pires Lima que me trouxe algumas sugestões de como definir, por exemplo, conceitos como etnia e racismo.
A “Preta” conta muitas histórias interessantes e de um jeito que as crianças gostam.
Ela trabalha com as palavras:
"O sentido que nós damos às palavras indica o modo como vemos o mundo, traduz o que achamos das coisas [...]. Sombra é bom quando tem muita luz, e luz é bom quando está muito escuro. O petróleo é negro e não é sujo, o carvão é preto e faz fumaça branca, e eu pensei em tantos opostos que se equilibram que... deu um branco na minha cabeça!" (p. 54)
As ilustrações do livro são lindas e são feitas por Laurabeatriz.

domingo, 5 de abril de 2009

Educação Especial


No âmbito da educação inclusiva, um fator de grande importância é o espaço, o ambiente e os recursos que devem ser acessíveis e responder às necessidades de cada aluno. Portanto, a acessibilidade dos materiais pedagógicos, dos espaços e o investimento nos profissionais que fazem a educação, criam condições para que o aluno com necessidades especiais participem do processo educativo dentro da escola regular.
Uma nova questão está posta: não cabe ao aluno se adaptar à escola, a escola é que deve se adaptar às exigências de toda a sua comunidade.
Para tanto é necessário que a escola se torne inclusiva, não só na estrutura física, mas nas práticas de ensino.
Trabalhava em uma Escola Municipal de POA há alguns anos atrás, com uma turma de A30, em que um dos meninos era cadeirante. A escola, antiga na rede, tinha construções antigas de madeira ainda, que eram ligados por degraus. A escola fica em um morro do bairro Partenon. O menino que era assíduo às aulas, não freqüentava o refeitório, porque esse ficava localizado longe do acesso principal. Na hora da refeição, o menino ficava sozinho na sala de aula, às vezes desenhando, às vezes olhando algumas figuras (ele ainda estava em processo de aquisição da escrita). Um pequeno exemplo do quanto a escola pode incluir sem ser inclusiva, sem proporcionar inclusividade.

Conversando com Outeiral


Essa semana tive o prazer de assistir o Dr. José Outeiral conversando com professores municipais da zona sul de Porto Alegre.
Esse renomado psiquiatra falou da dilaceração das relações familiares da modernidade e da necessidade que nossos alunos têm de estabelecer, na escola, sólidos vínculos afetivos. Antigamente as pessoas, tanto adultos quanto crianças, eram conhecidas e reconhecidas em suas comunidades. Hoje todos passam anônimos pelas grandes metrópoles. Ninguém se conhece e a escola supre essa necessidade das crianças. As famílias mudaram muito. Segundo ele, as crianças passam a chamar os professores de “tio e tia” na medida que vêem suas relações familiares deterioradas. Chamam de tios àqueles com quem conseguem estabelecer vínculo. Aliás, sobre isso, ele trouxe uma informação interessante. A origem da palavra “brincar” em latim é “vínculum”, que em português quer dizer laços, união. Outeiral defende a idéia de que o aluno exerce verdadeiramente sua cidadania, quando brinca, quando joga. E a escola é o espaço adequado para isso. As brincadeiras ajudam no sucesso escolar, garantindo a efetiva escolarização. Essa é uma das formas de expressão da inclusão social.
Comentou também, como elemento importante para que se compreenda o cenário atual, a questão etária da adolescência. Segundo o E.C.A, adolescente é aquele com idade entre 12 e 18 anos. Vemos hoje, na escola, a adolescência antes dos 10 anos de idade. Ao mesmo tempo em que ela chega antes, ela avança muito mais que a idade prevista, ao ponto de criar-se uma palavra que define essa nova fase como “adultescência”.
Diante de todas essas mudanças, a sugestão é de que saiamos de cima do nosso “cubo de conhecimento”, pois se estivermos sentados nele, teremos uma visão de apenas três lados. Precisamos ter a visão do todo e utilizarmos todas as áreas para tentarmos minimizar essas questões dentro da escola.
O palestrante reforçou também que a escola ainda é um espaço saudável de construções e trocas e colocou como questão importante para segurar a atenção do aluno, a “autoria” do professor em sala de aula.