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POSTAGENS

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS


Destaco aqui algumas idéias do texto Alfabetização de adultos: ainda um desafio, de Regina Hara, que acho interessante pensarmos e discutirmos, pois considero ausentes em boa parte das relações entre o professor/aluno, principalmente no que se refere à escolarização de um adulto. Primeiro, e acima de tudo, é indispensável enfatizar a importância da construção do saber como parte intrínseca da alfabetização e a relevância contida na "bagagem" do alfabetizando como condição essencial no processo de escolarização. Segundo, ressalto a necessidade de enxergar o aluno adulto não alfabetizado como um ser repleto de conceitos e hipóteses que podem auxiliar imensamente no caminhar da sua aprendizagem. Aqui se faz fundamental considerar como ponto de partida o que eles sabem e não o que ignoram, levando em conta a nossa ignorância sobre o que eles trazem de saber em si. E por último, evidencio o papel do professor como suporte para a apropriação do alfabetizando na aquisição da leitura e da escrita, fazendo com que ele se perceba o sujeito da construção do seu próprio aprendizado.

A partir das idéias do texto, somadas a outras abordagens, como o nosso modo de conceber o processo de alfabetização, podemos compreender melhor o que é importante saber do aluno, na intenção de que essa procura auxilie nesse processo. Dos três fatores que citei, retomo o primeiro, destacando o seu caráter fundamental no que diz respeito à relevância que contém o que o aluno carrega de conhecimento em si. A exemplo dos esquemas de Piaget, que refletem, no indivíduo, seu nível atual de compreensão e conhecimento do mundo, podemos buscar no sujeito desse processo o seu objetivo em se alfabetizar. O que incentiva o aluno adulto a querer aprender a ler e escrever? Creio que devemos professor/aluno buscar juntos essas descobertas. Nosso fazer consiste em auxiliar o aluno no desvelo de seus conhecimentos, criando condições para que elaborem novos saberes.

Ainda não alfabetizei um aluno adulto, mas penso nas semelhanças e diferenças com o modo de aprendizado das crianças, e creio que devemos utilizar os mesmos como objetos de bastante reflexão. Mergulhar em um mundo cheio de curiosidades encobertas pelo véu do analfabetismo e torna-las instrumento de construção do saber, é para nós o objetivo maior do nosso fazer e, para a criança ou adulto, a maior descoberta da vida. A leitura e a escrita traduzem o pensamento em códigos inteligíveis, numa contínua construção, reconstrução e troca de conhecimentos. Se analisarmos os efeitos contrários à direção dessa construção, poderemos enxergar mil maneiras de facilitar o processo de ensino e aprendizagem. Transformar o que o aluno adulto tem vontade de falar em sinais que representem esse desejo, é o oposto do que sempre se fez na escola, que foi fazer esse mesmo aluno entender um amontoado de códigos que muitas vezes não tem relação nenhuma com o que eles querem dizer. Penso que essa é a ponte que liga os pontos da socialização através da comunicação, embora consigamos minimamente nos comunicar mesmo sem ela. Por isso precisamos descobrir o objetivo da alfabetização, ou estaremos só fabricando mais alguns reprodutores de palavras e conceitos pré-estabelecidos.

Um comentário:

Beatriz disse...

Oi Zinara, tuas reflexões são sempre excelentes leituras, sempre nos fazem pensar. Na verdade, o homem que não está alfabetizado e nem apropriado do letramento, é um homem cuja compreensão do mundo é muito baseada m suas experiências e nas ideías que permeiam o senso comum. Claro que é um aprendiz e, muitas vezes, desenvolve outros mecanismos que suprem essa grande falha. Eu conheci um analfabeto adulto que conseguia transitar por toda a cidade com um código linguistico, fazia compras, comparava situações, tomava decisões adequadas através de um código desinais que ela mesmo criou. Mas isso gerava incompatibilidade com o código amplo e social.
Um abração
Bea